16 personalidades é um termo popular que se refere ao Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) ou Tipologia de Myers-Briggs em português, um modelo de tipologia de personalidade que tenta categorizar diferentes preferências psicológicas em 4 categorias principais que podem ser combinadas em 16 tipos de personalidades.
O MBTI foi criado por Isabel Myers com a ajuda de sua mãe, Katharine Cook Briggs. Ambas já estavam trabalhando em um instrumento que as ajudaria a entender melhor a natureza humana quando se depararam com as ideias de Carl Jung em 1923. Encontrando-as alinhadas com seu próprio trabalho, as duas recorreram à teoria original de Jung para criar um questionário que pudesse ser usado para categorizar 16 tipos de personalidades.
Carl Jung se interessou pela tipologia da personalidade ao tentar entender as diferenças fundamentais entre as teorias de Sigmund Freud e Alfred Adler sobre o tema da psicologia profunda. Enquanto o primeiro enfatizava a importância dos processos inconscientes para entender um indivíduo, o foco de Adler na busca por entender a pessoa como um todo, em vez de se focar em um fragmento de sua psique.
Ao tentar encontrar um meio-termo entre as duas teorias e formular a sua própria no processo, Jung concluiu que havia diferentes tipos de personalidades que influenciam a mentalidade e o comportamento de cada indivíduo.
Em 1921, o psiquiatra suíço publicou o livro “Psychologische Typen”, traduzido em 1923 para o inglês com o título “Psychological Types”1. Nele, ele expõe suas descobertas, defendendo a existência de 6 tipos de personalidades: extroversão, introversão, pensamento, sentimento, sensação e intuição.
Os tipos foram descritos em termos dicotômicos: extrovertido vs. introvertido, pensamento vs. sentimento e sensação vs. intuição. Os dois primeiros formam o que Jung chamou de tipos de atitude e dependem dos interesses do indivíduo, enquanto os quatro restantes se enquadram na categoria de tipos de função. Além disso, o autor considerou que os tipos de função também podem ser agrupados em duas categorias: as funções racionais ou julgadoras (pensamento e sentimento) e as funções perceptivas ou irracionais (sensação e intuição).
Segundo Jung, cada tipo de função também está associado a um tipo de atitude. Como resultado, o psiquiatra propôs um total de 8 funções dominantes que podem ser usadas para explicar a personalidade.
Isabel Myers e Katharine Cook Briggs recorreram aos tipos de personalidade de Carl Jung para criar seu indicador tipológico, adaptando alguns de seus conceitos e aplicando uma metodologia científica à teoria, já que o psiquiatra suíço baseou suas descobertas apenas em análises empíricas. A principal inovação agregada pelo MBTI são os fatores Julgamento e Percepção para indicar a predisposição de uma pessoa ao se relacionar com o mundo exterior.
Myers e Briggs argumentam que os fatores de personalidade são, de fato, preferências naturais. Ter um determinado tipo de personalidade não invalida que a pessoa possa apresentar traços opostos em diferentes contextos e situações. Não é que eles não possam fazê-lo, mas sim que isso não vem naturalmente para eles. Esse conceito de preferência na personalidade é muitas vezes explicado pela comparação com os destros: eles sempre preferem escrever com a mão direita, mas também podem fazê-lo, embora com menos habilidade, com a mão esquerda, quando necessário. No entanto, com o tempo e a prática, eles podem se tornar tão bons usando a esquerda que podem mudar sua mão preferida.
O MBTI baseia-se na presunção de que as preferências são inerentes ou podem ser desenvolvidas. Isso explica por que algumas pessoas podem ter resultados diferentes ao repetir o teste em distintos momentos de suas vidas.
O MBTI propõe 16 tipos de personalidade, classificando o equivalente aos fatores de atitude e fatores de função de Jung em 4 pares opostos. A estes, Isabel Myers e Katharine Cook Briggs acrescentaram os fatores Julgamento (J) e Percepção (P) para espelhar a preferência da pessoa ao se expressar em relação ao mundo exterior.
Essas personalidades são geralmente referidas pela letra inicial dos fatores em inglês, exceto no caso da Intuição para a qual a letra N é usada para distingui-la da introversão.
No MBTI, a extroversão refere-se ao mundo exterior, enquanto a introversão é sobre o mundo dentro de nós mesmos.
Uma pessoa é “extrovertida” quando está lidando com o exterior. Por exemplo, quando se envolve em interações sociais ou mesmo quando está dirigindo ou cozinhando. Pelo contrário, ela é “introvertida” quando está dentro de sua própria mente. Por exemplo, quando está pensando em um problema, quando está consciente de seus sentimentos e emoções, ou quando está lendo um livro.
No contexto dos tipos de personalidade MBTI, a distinção é feita avaliando a preferência do indivíduo, bem como em que mundo (externo ou interno) ele vive com mais frequência.
Esses dois tipos de função referem-se à maneira preferida de tomar uma decisão. Os pensadores tendem a ser racionais e lógicos em suas avaliações, enquanto os sentimentais muitas vezes tomam uma decisão com base no que acreditam ser certo ou em seu sistema de valores, sem necessariamente ter uma razão lógica para fazê-lo.
Por exemplo, os pensadores compram um novo par de sapatos porque os materiais são bons, o preço é atraente e os deles estão ficando velhos. Os sentimentais compram um novo par de sapatos porque gostam deles.
Tomar uma decisão geralmente envolve pensar e sentir, e as “decisões difíceis” surgem normalmente de um conflito entre os dois lados. Nesses casos, a preferência dominante tende a assumir o controle. Se o lado lógico vencer, a pessoa será do tipo T (de Thinking ou Pensamento) na escala MBTI e, se perder, a pessoa será do tipo F (de Feeling ou Sentimento).
Enquanto a dicotomia de pensamento versus sentimento está associada à maneira preferida de tomar decisões, a sensação e a intuição estão relacionadas com a forma como o indivíduo coleta dados e informações para as tomar.
A função sensorial está ligada a uma interpretação literal das informações recebidas através dos cinco sentidos (audição, tato, visão, paladar e olfato). Pelo contrário, aqueles que dão preferência à função intuitiva geram possibilidades abstratas a partir das mesmas informações e se concentram nos significados subjacentes dos dados que recebem.
Ambas as funções são usadas até certo ponto por todos. Para estabelecer o tipo de personalidade, a distinção é feita dependendo do tipo de coleta de informações em que a pessoa mais confia. Eles preferem trabalhar com fatos ou preferem confiar em sua intuição, mesmo que não seja baseada em dados percebidos imediatamente?
Essas palavras não carregam o mesmo significado que na linguagem corrente. Uma pessoa que prefere o fator julgamento não é necessariamente julgadora. No contexto do MBTI e dos tipos de personalidade, esses termos estão ligados à forma como uma pessoa vive sua vida diária e sua atitude em relação ao mundo exterior.
Aqueles que preferem o julgamento gostam de coisas bem organizadas e estabelecidas. Em contraste, quem escolhe a Percepção gosta que as coisas sejam flexíveis e espontâneas. Em outras palavras, os julgadores querem as coisas resolvidas (seguir um plano e ter prazos) e os perceptores querem as coisas em aberto (decidir à medida que avançam).
Os tipos de personalidade da Tipologia de Myers-Briggs são avaliados por meio de um questionário. Sua precisão (embora muitos pesquisadores defendam que não há nenhuma em tal avaliação) depende da honestidade do indivíduo e de sua capacidade de realizar uma autoanálise correta.
A interpretação dos resultados segue um sistema binário, com os indivíduos caindo em um ou outro lado do espectro dos fatores, sem opção intermediária. Por exemplo, uma pessoa só pode ser extrovertida ou introvertida, não há terceira opção nem o MBTI leva em conta contextos situacionais.
Devido a esse sistema binário, o MBTI não pode e não deve ser utilizado para identificar possíveis escolhas de carreira ou a adequação de uma pessoa para um trabalho específico. Da mesma forma, esse sistema é frequentemente criticado junto com o tipo de avaliação em questionário porque pode facilmente produzir resultados opostos se uma pessoa não oferecer as mesmas respostas exatas quando o repete. No entanto, aqueles que defendem a sua pertinência referem que o MBTI foi concebido para avaliar as preferências e estas podem e muitas vezes mudar com o tempo.
Os 16 tipos de personalidade da Tipologia de Myers-Briggs são essencialmente um modelo e um método destinado a estimular um processo de autorreflexão. Os resultados não são obtidos por comparação com outros participantes, mas antes avaliando as respostas e a auto percepção de cada pessoa.
Ao descobrir que tipo eles são e explorar os traços de personalidade associados a eles, os indivíduos podem aprender mais sobre si mesmos, suas preferências e suas predisposições, o que, por sua vez, pode ajudá-los a entender melhor suas necessidades, pontos fortes e fracos.
Referências:
1 Jung, C. G. (1923). Psychological types; or, The psychology of individuation. London: Paul, Trench, Trubner.